O jornal El Cronista, o mais antigo e tradicional jornal de
negócios de Buenos Aires, completa hoje 104 anos. Em vez de comemorar a
data com festejos e um bom bife de chorizo, preferiram seus editores
estampar um vigoroso libelo contra o avanço sistemático do governo
argentino sobre as liberdades civis, em particular a liberdade de
imprensa. No vizinho país, nosso aliado estratégico, democracia
populista de notável jaez, os jornalistas podem tudo, exceto fazer
perguntas sobre temas delicados, tais como a inflação, o desemprego, a
corrupção, a violência, o crescimento acelerado e vultoso do patrimônio
de algumas autoridades públicas, o arrocho cambial, a falta de
credibilidade do Indec (ente responsável pelas estatísticas).
Torniquete argentino
Por Pedro Luiz Rodrigues
O jornal El Cronista, o mais antigo e tradicional jornal de negócios de Buenos Aires, completa hoje 104 anos.
Em vez de comemorar a data com festejos e um bom bife de chorizo,
preferiram seus editores estampar um vigoroso libelo contra o avanço
sistemático do governo argentino sobre as liberdades civis, em
particular a liberdade de imprensa.
No vizinho país, nosso aliado estratégico, democracia populista de
notável jaez, os jornalistas podem tudo, exceto fazer perguntas sobre
temas delicados, tais como a inflação, o desemprego, a corrupção, a
violência, o crescimento acelerado e vultoso do patrimônio de algumas
autoridades públicas, o arrocho cambial, a falta de credibilidade do
Indec (ente responsável pelas estatísticas).
Em linguagem cuidadosa, o editorial do Cronista vai expondo as
mazelas da administração da Presidente Cristina Kirchner: "É nossa
obrigação advertir que o Governo, deixando de lado o equilíbrio e a
independência que deve existir entre os poderes do Estado, prefere -
qual jogador cego pela ambição e pelo desejo de ganhar a todo custo -
virar o tabuleiro e ficar com todas as fichas para, assim, jogar
sozinho e avançar sobre todas as posições possíveis. Ainda que sobre as
quais não lhes cabe institucionalmente".
- "O jornalismo está em risco. Sua essência é indagar sobre os
fatos, em busca da verdade. Sua função é ter um enfoque crítico. E isso
incomoda os poderosos de plantão".
Ontem, o presidente do grupo Clarín, Héctor Magnetto, bateu sobre a
mesma tecla. Em Montevidéo, onde esteve para receber homenagem da
Associação Internacional de Radiodifusão, criticou o Governo pelas
pressões indevidas que está fazendo sobre o Poder Judicário quanto à
aplicação da nova lei de meios de comunicação. Para Magnetto, os
governos da Argentina e da Venezuela são de viés nitidamente
autoritário.
***
Já que nosso foco de hoje é a Argentina, temos uma peça para
reflexão no artigo "Decálogo do Populismo", assinado por Enrique
Krauze. Juro que durante toda sua leitura não consegui afastar da
cabeça a imagem do ex-Presidente Lula ( a quem devemos hoje felicitar
pela magnífica notícia de que não é mais portador do câncer na laringe
que o afetou por tantos meses). Vamos ao decálogo:
1. O populismo exalta o líder carismático. (" No hay populismo sin
la figura del hombre providencial que resolverá, de una buena vez y
para siempre, los problemas del pueblo").
2. O populista não só usa e abusa da palavra, mas se apodera dela.
("El populista se siente el intérprete supremo de la verdad general.
Habla con el público de manera constante, atiza sus pasiones, "alumbra
el camino" y hace todo ello sin limitaciones ni intermediarios").
3. O populismo fabrica a verdade (El gobierno "popular" interpreta
la voz del pueblo, eleva esa versión al rango de verdad oficial y
sueña con decretar la verdad única. Como es natural, los populistas
abominan de la libertad de expresión. Confunden la crítica con la
enemistad militante, por eso buscan desprestigiarla, controlarla,
acallarla")
4. O populista usa de modo discricionário os recursos públicos.
( "El erario es su patrimonio privado, que puede utilizar para
enriquecerse o para embarcarse en proyectos que considere importantes o
gloriosos, o para ambas cosas, sin tomar en cuenta los costos").
5) O populista distribui a riqueza, o que não é criticável em si
mesmo. ( "Pero el populista no reparte gratis: focaliza su ayuda, la
cobra en obediencia").
6) O populista alenta o ódio entre as clases (" Hostigan a "los
ricos" (a quienes acusan a menudo de ser "antinacionales"), pero atraen
a los "empresarios patrióticos" que apoyan al régimen").
7) O populista mobiliza permanentemente os grupos sociais. ""El
populismo apela, organiza, enardece a las masas. La plaza pública es un
teatro donde aparece "Su Majestad El Pueblo" para demostrar su fuerza y
escuchar las invectivas contra "los malos" de adentro y afuera").
8) O populismo fustiga pelo sistema do 'inimigo exterior'.
("Inmune a la crítica y alérgico a la autocrítica, necesitado de
señalar chivos expiatorios para los fracasos, el régimen populista (más
nacionalista que patriota) requiere desviar la atención interna hacia
el adversario de afuera").
9) O populismo tem desprezo pela ordem legal. ("Hay en la cultura
política iberoamericana un apego atávico a la "ley natural" y una
desconfianza de las leyes hechas por el hombre. Por eso, una vez en el
poder (como Chávez), el caudillo tiende a apoderarse del Congreso e
inducir la "justicia directa).
10. O populismo, mina, domina e abomina as instituições da
democracia liberal. (" El populismo abomina de los límites a su poder,
los considera aristocráticos, oligárquicos, contrarios a la "voluntad
popular").
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